Dez anos depois, na trilha do sucesso das outras velhas guardas, surge novamente a Velha Guarda imperiana. Encabeçando o pessoal estão o bateirista Wilson das Neves, diretor da ala de compositores, e Zé Luíz, líder de honra do grupo. Os outros integrantes são Ivan Milanês, Cizinho (sobrinho de Mano Décio), Toninho Fuleiro (filho do genial Mestre Fuleiro), Fabrício, Aloísio Machado, Capoeira da Cuíca, Silvio e as pastoras Lindomar, Balbina e Nina, todos eles baluartes da história de uma escola cuja característica principal é a tradição. Contemporâneos de figuras como Silas de Oliveira, Mano Décio, Mestre Fuleiro, entre outros, e que, assim como estes, cultivam o samba de verdade, em letra, harmonia e alma. O resultado dessa reunião calcada no amor ao Império e a figuras ancestrais da escola pode ser conferido no disco Um Show de Velha Guarda, lançado pela Biscoito Fino.
A escolha do repertório foi consenso entre os 12: todos optaram por uma seleção que priorizasse os sambas mais antigos, clássicos (alguns não muito conhecidos) de compositores que fizeram história na escola. Assim, o disco começa com um medley de Império Tocou reunir (Silas de Oliveira e Dona Ivone Lara, gravado por ela em 1978) e Não me Perguntes (Mestre Fuleiro e Dona Ivone Lara), em dueto de Zé Luis e Ivan Milanez. Menino de 47 (Nilton Campolino e Molequinho) é uma homenagem à fundação da escola, agora na voz de Zé Luis. Wilson das Neves interpreta Dei-te um Lar (Luiz Carlos Nega Vehia). A inspiração transborda nos sambas filosóficos A Humanidade (composto e interpretado por Aloísio Machado) e O Poeta e a Natureza (Osório Lima/ Mano Décio). A bem-humorada Cuidado Vovó (Hélio dos Santos e Nilton Campolino) ganha participação luxuosa das Meninas da Serrinha (Luiza, Deli e Lazir). Em seguida, um medley de O que Seus Olhos Têm (Mestre Fuleiro) e Egoísmo Demais (Carlinhos Vovô), num contraponto temático. Enquanto na primeira “...seus olhos encantam linda mulher...”, na segunda “...és uma mulher fingida sem coração...”, nas vozes de Zé Luis e Toninho Fuleiro.
A inspirada parceria de Osório Lima e Mano Décio aparece novamante com a clássica Obsessão. O primeiro assina ainda Bálsamo da Paz. O Império e seu cenário, a Serrinha, são decantados em Serra dos Meus Sonhos (Carlinhos Bem-te-vi) e Sou Imperial (Alvaresse). As dores de amor são cantadas em Triste Destino (Adilson Negão). O penúltimo número é uma junção de Tava Doente (Domínio Público) e Vapor da Paraíba (Mestre Fuleiro e Vovó Teresa), numa alusão ao fim do disco. Depois de uma longa viagem pelo melhor do samba da Serrinha, o “vapor” completa seu curso.
A direção musical é de Paulão Sete Cordas, cujo trabalho tem o toque de respeito, quase reverência, de quem veste a camisa porque tem passado. Aliás, o passado é o protagonista do disco. Pois nele os senhores da Serrinha buscaram a matéria-prima pra um trabalho que legitima e revigora o presente. Afinal, referência e memória são fundamentais. Ainda mais numa escola chamada Império Serrano, onde o apreço pelas próprias raízes vem de berço, para que se perpetue o samba que ainda vai nascer.
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